Criar uma vida e um mundo melhores

Trabalhar numa empresa cuja actividade tenha um impacto positivo na comunidade/sociedade tem vindo a ganhar peso na definição do que é um Great Place to Work

A nível europeu e global, trabalhar numa empresa cuja actividade tenha um impacto positivo na comunidade/sociedade é uma tendência no mercado, que faz a diferença na hora de atrair e manter talentos. A competitividade está a ganhar novos contornos e os melhores profissionais procuram cada vez mais um emprego com um significado especial, no melhor ambiente de trabalho. Há tendências comuns em termos europeus e globais quanto a essa definição.

Uma delas passa pela melhoria do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Está normalmente ligada a um perfil de empresas mais inovadoras e activas em termos de responsabilidade social que sustentam a sua gestão pela base, ou seja, junto do seu público interno. Naturalmente, o facto de poder beneficiar de flexibilidade de horário ou de teletrabalho pressupõe poder contar com elementos com elevados níveis de responsabilidade e engagement.

O resultado regista impactos positivos, inclusive, na promoção da igualdade de género que, em última análise, é um dos factores potenciadores da natalidade.
Procura-se: tempo livre “No passado, a compensação salarial pode ter representado uma meta para uma vida melhor. Actualmente, trata-se do tempo livre
para manter o foco em assuntos fora do ambiente de trabalho. Estamos a viver uma mudança de paradigma quanto ao que atribui significado à vida das pessoas.
Sentir-se bem em relação ao trabalho que desempenha, às pessoas com que trabalha e com o sucesso da empresa está absolutamente interligado”, diz Klaus Entenmann, CEO da Daimler Financial Services.”

Ter flexibilidade de horário, com possibilidade de teletrabalho, é uma das formas de manter os talentos motivados (com a ressalva de não ser adaptável a todo o
tipo de público de uma empresa). Mais do que contribuir para uma melhor gestão do quotidiano, pesa substancialmente na melhoria de qualidade de vida dos colaboradores, além de que pode facilitar a igualdade de género.

Em França, uma das soluções encontradas passa pelo incentivo junto dos pais do sexo masculino. É fomentado o seu investimento de forma mais relevante
nos filhos mais jovens, o que se acredita potenciar a redução das desigualdades salariais entre as mulheres e os homens. Incentiva-se o usufruto da licença de paternidade em vez da penalização.

Portugal é o terceiro país mais desigual da União Europeia, segundo o relatório que acompanha o Índice da Igualdade de Género, elaborado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género. Este índice analisou seis indicadores (trabalho, dinheiro, tempo, educação, poder e saúde) e coloca as mulheres portuguesas  a pouco mais de um terço de igualdade com os homens. O país pontuou 37.9 num índice em que 100 representa  a igualdade máxima entre os dois sexos.

Entre os ambientes Great Place to Work, as tendências registam dispensas para o acompanhamento familiar, bem como o aumento de dias de ausência justificadas, no caso de maternidade ou doença, sem efeitos no vencimento. Adicionalmente, a promoção de flexibilidade de horário (com possibilidade de teletrabalho) tem aumentado e é promovida quase por 100% deste conjunto de empresas.

Criar um mundo melhor através da atividade profissional A geração nascida entre 1980 e 2000 procura cada vez mais empresas e lideranças que prestem atenção à harmonia entre a vida pessoal e profissional, bem como à responsabilidade social e à inovação. As empresas de tecnologias de informação e de  consultoria estão ‘in’ e a banca de investimento está ‘out’. Esta tendência, apontada na revista The Economist (10/2014), faz referência a um estudo junto de licenciados das principais escolas de negócio do mundo. Efectivamente, em 2014, a presença do sector de Tecnologias de Informação na Lista Global, apenas constituída por Multinacionais, é de 40%.

Face a 2013, quase duplicou a sua representatividade. Adicionalmente, este sector destacou-se em posições de liderança integrando o top 3 na Lista Global
(Google; SAS Institute; NetApp). Satya Nadella, CEO da Microsoft sublinha que os “seus” colaboradores procuram um significado no seu trabalho: “vêm trabalhar diariamente com o foco em incentivar as pessoas a fazer melhor, a alcançar mais e a viver a vida que querem viver. Mais do que nunca, os talentos de topo não procuram apenas um excelente emprego, mas criar uma vida e um mundo melhor – e o seu trabalho é parte da solução para o alcançar…”

A inclusão de competências de sustentabilidade na avaliação de desempenho, bem como a disponibilização de formação nesta área aquando do acolhimento,
começam a generalizar-se. Em ambientes pioneiros investe-se na formação dos colaboradores através de sessões de sensibilização para a importância de
uma alimentação saudável. A uma sensibilização para a redução de consumo (sobretudo proveniente de energias fósseis), privilegia-se a aquisição de materiais naturais e/ou com maior durabilidade. Sugere-se o investimento no planeamento de deslocações: a realizar em horários com menos trânsito, sequenciais ou no mesmo dia, na mesma região/zona da cidade e, sempre que possível, com recurso a a transportes públicos, entre os quais o comboio, no caso de trajetos longos.

A passagem da optimização da performance financeira à da performance societal da empresa exige uma nova ciência e um novo ensino da gestão para viabilizar o que denomina de “terceira revolução da gestão”. As preocupações relativamente às consequências do “todo financeiro” já se fazem ouvir, em particular, no seio de um público mais jovem.

Sandrine Lage – Fundadora do instituto Great Place to Work em Portugal

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