Desfibrilhador Automático Externo, um equipamento que salva vidas

Muito provavelmente de passagem por um aeroporto, centro comercial ou recinto desportivo já terá reparado na instalação de equipamentos de Desfibrilhação Automática Externa nos corredores ou locais com maior tráfego de pessoas.

O que são então estes equipamentos, também conhecidos pelo seu acrónimo “DAE” e para que servem?

Um DAE é um dispositivo médico eletrónico portátil que em situações de paragem cardiorrespiratória analisa o ritmo cardíaco da vítima e, nos casos indicados, aplica um choque elétrico com o intuito de se retomar um ciclo cardíaco normal e assim evitar a morte do doente.

Os DAEs sendo dispositivos médicos, foram desenvolvidos para ser utilizados por leigos e são muito simples de operar. São equipamentos muito fiáveis e 100% seguros se cumpridas as regras de segurança. A probabilidade de administrar um choque numa situação não recomendada é praticamente inexistente.

A paragem cardiorrespiratória é uma das principais causas de mortalidade nos países desenvolvidos. Estima-se que só em Portugal serão mais de 10.000 casos todos os anos, isto é, uma mortalidade superior à provocada em conjunto pelo cancro da mama, cancro do pulmão, sida e acidentes rodoviários.

Esta doença, sendo mais frequente em grupos de risco, pode também afetar pessoas aparentemente saudáveis, de qualquer idade, género ou condição física e ocorre quase sempre de forma súbita, inesperada e fora do meio hospitalar.

Na grande maioria dos casos o único tratamento eficaz é a desfibrilhação elétrica (choque) e o fator mais importante para o sucesso da intervenção é o tempo que decorre entre o colapso da vítima e o início das manobras de Suporte Básico de Vida e desfibrilhação. Idealmente estas devem começar em menos de 3 minutos, se o socorro demorar mais de 10 minutos a vítima dificilmente sobreviverá.

É por isto que é importante a instalação de DAEs nos locais com maior trafego de pessoas, porque é muito pouco provável que a emergência médica (112) consiga chegar em menos de 10 minutos. Para a vítima ter uma maior probabilidade de sobrevivência as primeiras manobras de socorro terão que ser prestada pelas pessoas que estão no local.

É importante referir que tão importante como ter DAEs é ter pessoas com formação em Suporte Básico de Vida. Trata-se de um curso de 6 horas, bastante simples e acessível, que ensina a realizar manobras de reanimação cardiopulmonar e a manusear o DAE. Como é comum dizer-se: são os socorristas com DAEs que salvam vidas, um DAE na parede não salva a vida a ninguém.

Recentemente Portugal ultrapassou a marca dos 1.000 DAEs colocados em locais públicos. Trata-se de um resultado importante porque até há pouco tempo estes equipamentos eram praticamente inexistentes foras dos hospitais. No entanto, isto dá 1 DAE por 10.000 habitantes que compara com 2 em Espanha, 9 na Alemanha, 15 em França, 47 no Japão e 80 nos EUA!

Na população portuguesa também são ainda muito poucas as pessoas com formação em Suporte Básico de Vida. Em muitos países estes cursos são obrigatórios nas escolas ou para poder tirar a carta de condução.

Em 57% das situações de paragem cardiorrespiratória presenciada no nosso país não é realizada qualquer manobra de socorro até à chegada da emergência médica, uma situação que merece reflexão de todos e que tem como consequência que em Portugal quase todas as vítimas de Paragem Cardiorrespiratória extra-hospitalar morrem, apenas 3% sobrevive. Não têm que ser assim, na Holanda e a Noruega as taxas de sobrevivência são quase 10 vezes superiores. E em locais com DAEs e socorristas treinados em Suporte Básico de Vida existem estudos científicos que mostram taxas de sobrevivência de 74%.

Portugal tem assim um longo caminho a percorrer nesta área.

Resta referir que desfibrilhar é um ato médico, mas em Portugal desde 2010 pode ser delegado em não-médicos no contexto de um Programa DAE devidamente licenciado. Para licenciar um Programa DAE no INEM ou Proteção Civil dos Açores/Madeira é necessário: Formar alguns colaboradores em Suporte Básico de Vida; Instalar os DAEs nos locais definidos; e assegurar a existência de um sistema de controlo de qualidade e direção médica. Existem várias empresas que prestam este serviço.

por: Dra. Ana Margarida Correia – especialista em medicina interna

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