Estudo Lantern antevê principais mudanças no setor alimentar resultantes da pandemia

Haverá um mundo antes, durante e depois da pandemia. O estudo “EIT Food Foresight: Impact of COVID 19 on the Food Sector in Southern Europe”, realizado pela consultora Lantern, em conjunto com o Instituto Europeu da Inovação e Tecnologia (EIT, na sigla inglesa), assegura que, mesmo após a erradicação do vírus, o setor alimentar – e os negócios a ele inerentes – não volte a ser igual.

O futuro do setor agroalimentar foi discutido, esta terça-feira, dia 23 de fevereiro, num webinar promovido pela Lantern. O evento contou com a participação de David Lacasa, sócio da Lantern; Lia Gonzalez de Oliveira, Diretora de Marketing da Nobre, e Gonçalo Amorim, representante do EIT em Portugal. Ao longo de uma hora, foram reveladas e analisadas as grandes mudanças, resultantes da pandemia, que já começam a ser notórias.

Pandemia acelerou digitalização do setor alimentar em 2 a 4 anos. Negócios de delivery ainda têm de ser “repensados”

Um dos setores mais tradicionais do país foi obrigado a reinventar-se. O setor da alimentação teve de fechar portas, mas ao mesmo tempo precisou de chegar ao consumidor para que as portas não se fechassem de vez. Enquanto restaurantes aderiram a plataformas como a Uber Eats ou a Glovo, as marcas de alimentação repensaram e reconstruiram as suas ofertas online.

Nos países do sul da Europa, o e-Commerce já cresceu 42% desde o primeiro confinamento. No caso de Portugal, em 2020, 1 em cada 3 lares em Portugal comprou produtos de grande consumo online em 2020 e 45% deles voltaram a utilizar este canal de compra no mínimo mais uma vez. Com a pandemia, “vimos a eficácia do ecommerce nas várias áreas de negócio alimentar”, afirma David Lacasa, sócio da Lantern, referindo que, através do e-Commerce, “encontrámos muitos produtos que antes não víamos nas lojas”. “Foi uma oportunidade para novos e diferentes tipos de consumo”, acrescenta ainda.

No entanto, numa análise ao mercado da restauração e alimentação português, o estudo da Lantern e do EIT revela que:

  • Quase 60% das empresas ainda não usam qualquer meio de entrega
  • Cerca de 11% dos inquiridos continuam a usar serviços de entrega disponíveis com a mesma regularidade.
  • Apenas 23% dos restaurantes referem que investiram mais neste modelo
  • Ainda 7% dos inquiridos assumem que só agora começaram a usar serviços de entrega.

Para lá da falta de estrutura financeira, os pequenos negócios assumem que existem outras condicionantes que os impedem de investir em canais de ligação diretos com os seus clientes. Além das elevadas taxas e comissões impostas pelas plataformas existentes por cada refeição entregue, o estudo revela que as mesmas plataformas não partilham os dados de consumo dos clientes, obrigando os restaurantes e cafés a trabalharem sobre um clima de constante imprevisibilidade, limitando a eficácia e sustentabilidade dos negócios.

É por isso que David Lacasa afirma que “o negócio do delivery tem de ser repensado”, dado que, neste momento, “nenhuma plataforma é rentável até ao dia de hoje e os restaurantes também não estão a ganhar dinheiro”.

Etiquetas mais verdes e um novo tipo de consumidor: mais educado, consciente e racional

Perante um vírus que continua a ameaçar a saúde de todos, a Lantern e o EIT estimam que o consumidor venha a preocupar-se cada vez mais com aquilo come. Dessa nova tendência, assegura a Lantern, nascem novas oportunidades de negócio para as empresas relançarem as suas economias. Um dos exemplos mais claros vem de Itália, por parte da Cortilia – um mercado agrícola que passo a disponibilizar a entrega de produtos alimentares biológicos diretamente ao consumidor.

De forma generalizada, a sociedade vai ganhar cada vez mais noção do impacto das suas escolhas, passando a agir de uma forma cada vez mais humana e consciente na maneira como consome, o que leva a Lantern a antever a sustentabilidade como um dos principais motores do consumo, enquanto as marcas procuram clarificar os seus propósitos para aumentar a sua participação no mercado. Desta forma, “conceitos como a Economia Circular vão ganhar cada vez mais expressão”, assegura David Lacasa.

Esta visão é partilhada por Lia González de Oliveira, marketing Director da Nobre, que afirma que “depois deste contexto pandémico, teremos um consumidor muito mais educado, no sentido em que procura muito mais informação e usa os meios digitais para o fazer; muito mais preocupado no sentido em saber de onde vêm as coisas que consome, de que marca são, onde é produzido, quais são os propósitos dessas marcas, se estas têm preocupações com a sustentabilidade e responsabilidade social; e sobretudo mais racional”. “O consumidor mudou e temos de ir ao encontro dele e antecipar aquilo que ele vai querer”, acrescenta ainda a responsável.

Nesta senda, David Lacasa acredita que ideias como a Too Good to Go, que nasceram para combater o desperdício alimentar vão ganhar cada vez mais expressão, ao mesmo tempo que “vamos a ver etiquetas muito mais limpas e produtos mais naturais no futuro”, uma vez que “a saúde é agora um conceito muito mais aberto, mais holístico e mais próximo do wellness”.

Impacto económico vai até 30 mil milhões. ‘Bazuca’ chega com atrasos. “Execução é palavra de ordem”

Aos países do Sul é-lhes comum o Sol e a cozinha tradicional. Sem pratos para pôr na mesa e com as fronteiras fechadas, Portugal perdeu os habituais 6% do PIB para que contribui anualmente o turismo. De acordo com Gonçalo Amorim, “o custo desta pandemia está estimado entre 26 a 30 mil milhões de euros”. Na ‘bazuca’ monetária de apoio ao relançamento da economia estão previstos 15.1 mil milhões.

É por isto que, mesmo não sendo um montante suficiente, diz o representante do EIT em Portugal, a “execução é a palavra de ordem”. “O grande desafio é colocar o dinheiro dos contribuintes o mais rápido possível na economia para que ele se multiplique, gere mais impostos e, com mais impostos, se gere mais riqueza”. O CEO da Building Global Innovators lamenta, contudo, que este plano de recapitalização e resiliência económica já tenha sido discutido em abril de 2020 e que, passado quase um ano, ainda se “discutam detalhes” sobre a sua implementação. Refere, por isso, que é vital para as entidades europeias perceberem que “o dinheiro é preciso e é preciso agora”. “O dinheiro já vem de alguma forma atrasado, mas o importante é focarmo-nos na sua execução, ou seja, olhar e perceber onde e como é que o dinheiro é preciso, para que não percamos esta oportunidade”, remata.

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