FIA 2018 recebe criações de Joana Vasconcelos, Filipe Faísca e Nuno Gama

A primeira edição das FIA Talks sobre o tema “Herança Cultural no Design Contemporâneo”, contou com a presença de um painel composto por Joana Vasconcelos, Filipe Faísca e Nuno Gama, com a moderação da storyteller Sandra Nobre, em Lisboa, no atelier da criadora nacional.

Para redescobrir na FIA 2018 a nossa herança cultural, a Fundação AIP revelou que os visitantes da 31ª edição, que decorre de 23 de junho a 01 de Julho, irão contar com uma exposição de peças exclusivas dos mesmos criadores que estiveram presentes no evento: Joana Vasconcelos, Filipe Faísca e Nuno Gama.

A organização desta mesa redonda prende-se, acima de tudo, com o facto destes três criadores terem uma bandeira e uma língua comuns e fazerem da herança cultural o grande estandarte que os une e do qual fazem seu património.

Para Filipe Faísca, que apresentou na Moda Lisboa, uma coleção com peças com bordados da ilha da Madeira, disse que “não é difícil ficar-se zangado com o estado ao que o artesanato português chegou”. O criador, que afirmou ter chegado ao artesanato por acaso, diz que é essencial ter elementos figurativos e conhecer as técnicas para dar azo às criações. Reconhecendo que desde cedo foi influenciado pela região do país onde viveu depois de regressar de África, o Alentejo, revela que teve, desde sempre, a possibilidade de manter de perto um contacto com a cestaria, a manufatura e a lã da região. Para o designer a falta de registos pode impedir a que exista uma continuidade da tradição. Para o designer de moda há que pensar de forma diferente na herança cultural Portuguesa, e elevá-la para que esta chegue ao patamar de referência que merece.

Nuno Gama, um dos primeiros designers de moda a levar a marca Portugal como referência nas suas criações declarou que “não foram criadas estruturas necessárias para gerar interesse”, chamando a atenção para o lado humano e referindo que no passado existia mais tempo para as pessoas se dedicarem às coisas, “hoje em dia as pessoas não querem perder muito tempo, e outras tantas não reconhecem Portugal. Creio, contudo, que essa situação já está a mudar e já começamos a estar aptos para receber muito mais coisas. Os estrangeiros vêm à procura daquilo em que somos bons e que faz realmente a diferença, que é também aquilo que por vezes o português ainda esconde ou tem vergonha”, defendeu.

Por fim Joana Vasconcelos, que nas suas obras usa técnicas e símbolos portugueses defende que o seu principal papel “enquanto artesã não é continuar o artesanato, é reposicioná-lo. O primeiro passo está em entender que Portugal esteve fechado até há pouco mais de 40 anos. O que ficou retido desde o tempo da ditadura foram os conhecimentos e o artesanato, que foram mantidos. Exemplo disso foi que na Exposição do Mundo Português foi feito um apanhado de tudo aquilo que havia de bom em Portugal. Nessa altura uma série de intelectuais e artistas estudaram o país de Norte a Sul e identificaram e catalogaram uma série de técnicas. Depois disto nada mais foi acrescentado”, referiu Joana Vasconcelos adicionando ainda que “o facto de não ter havido industrialização em Portugal, ao mesmo tempo que houve nos outros países europeus, permitiu que as técnicas conseguissem ser mantidas durante pelo menos mais uma geração. Hoje na nossa geração, se não for feito nada agora para que estas sejam mantidas, daqui a 20 anos não haverá nada, apesar de ainda existirem alguns artesãos espalhados pelo país.

A título de fecho de sessão conclui-se que nos últimos anos tem havido uma necessidade de voltar às origens, e à certificação de algum tipo de artesanato, e é importante que exista a tomada de consciência sobre esta necessidade. É essencial pegar no nosso saber fazer nacional, trazê-lo de volta para o design contemporâneo, reposicioná-lo e projetá-lo a nível internacional. Mas para tudo isso tem de haver mais investimento para que este nosso património subsista

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