TeCA: Como será a espécie humana daqui a cem mil anos?

O Nosso Desporto Preferido – Futuro Distante é a nova criação de Gonçalo Waddington e reflete sobre o destino da civilização

Depois de O Nosso Desporto Preferido – Presente, estreado em 2016, Gonçalo Waddington encena o segundo momento desta tetralogia dedicada a refletir sobre a evolução e condição da espécie humana. O Nosso Desporto Preferido – Futuro Distante estará em cena de 18 a 28 de maio, no Teatro Carlos Alberto (TeCA), no Porto, e especula sobre os desvios evolutivos e sobre o que serão, daqui a cem mil anos, os Homo Sapiens de uma Civilização Tipo 3, de acordo com a escala Kardashev, um método proposto pelo astrofísico com o mesmo nome que mede o grau de desenvolvimento tecnológico da Humanidade.

O Nosso Desporto Preferido – Futuro Distante apresenta os cinco seres humanos perfeitos criados em laboratório por Michel (o cientista narcisista) no espetáculo-episódio anterior, uma civilização que não tem necessidades básicas e que pode dedicar-se exclusivamente à sublimação intelectual e artística. Em palco, as personagens esperam pela morte que teima em não chegar – os seus corpos têm uma durabilidade cem vezes maior do que os seus antepassados –, enquanto conversam e jogam badmínton, o desporto “elevado” que não permite discussões.

Para Gonçalo Waddington – que, para além da autoria do texto, é também responsável pela encenação – este espetáculo é uma ironia já que apresenta a perfeição como condição de desespero. Os seres humanos “divinos” não se alimentam, não se reproduzem (são reproduzidos através de um método em que não é necessária a troca de fluídos), não se apaixonam e não odeiam, tendo uma existência solitária desprovida de grandes emoções. O autor e encenador recorreu à típica composição da tragédia clássica grega, sendo que a peça é escrita em rima (haverá forma mais perfeita de falar?) e existe um Coro da Humanidade que tenta comunicar o desagrado da sua condição aos criadores.

A tetralogia distópica O Nosso Desporto Preferido teve como inspiração os universos paralelos e de ficção científica, criados por autores como Michel Houellebecq (A Possibilidade de Uma Ilha), Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo), Kurt Vonnegut (Galápagos) ou Woody Allen (O ABC do Amor e O Herói do Ano 2000). Apesar de este espetáculo estar diretamente ligado ao anterior, funciona por si só, havendo um epílogo que contextualiza o espectador. A série de quatro episódios continuará em 2018 com o capítulo Futuro Próximo e termina em 2019 com Génese.

A peça conta com as interpretações de Carla Maciel (única atriz que se mantém do espetáculo anterior), Carla Bolito, Gonçalo Waddington, Tiago Lima e Vânia Rovisco e é uma coprodução São Luiz Teatro Municipal e TNSJ, com residência artística n’O Espaço do Tempo. O espetáculo pode ser visto na quarta-feira e sábado, às 19h00, na quinta e sexta-feira, às 21h00, e no domingo, às 16h00. No último dia de apresentação, está prevista uma récita com tradução em Língua Gestual Portuguesa. O preço dos bilhetes é de 10 euros.

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