Mulheres nas Ciências: Três investigadoras portuguesas distinguidas

Investigação sobre anti-retrovirais para HIV, regeneração da medula e produção de energia limpa distingue três cientistas portuguesas

Como travar as mutações que estão a tornar algumas estirpes do HIV resistentes aos medicamentos anti-retrovirais? Será possível modular as células estaminais da medula para conseguir uma recuperação funcional após uma lesão? Será que a bactéria Geobacter poderá gerar energia limpa e simultaneamente remover compostos tóxicos do ambiente? Estas são algumas das questões que servem de partida à investigação de Ana Abecasis, Ana Ribeiro e Leonor Morgado, as três jovens cientistas distinguidas pelas “ Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência”.

Na sua nona edição, o júri científico – presidido pelo Professor Alexandre Quintanilha – analisou cerca de 70 candidaturas e seleccionou três projectos que poderão contribuir para a compreensão de processos complexos, associados a doenças que para as quais a ciência continua à procura de soluções e a desafios ambientais que necessitam de resposta urgente.

As três cientistas distinguidas e os seus projectos

Ana Ribeiro, 32 anos
Doutorada em Biologia Celular e do Desenvolvimento pela University College London, Reino Unido
Investigadora no Instituto de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa

Será possível modular as células estaminais neurais da medula espinal para conseguir uma recuperação funcional após uma lesão?
Os mamíferos têm uma capacidade muito limitada de regeneração celular que os impede de recuperar após uma lesão na espinal medula. Devido à falta de terapias eficazes, a lesão da medula espinal tem efeitos permanentes nos seres humanos, com sintomas que variam entre a dor e a paralisia, como nos casos de paraplegia e tetraplegia.

Ao contrário dos mamíferos, os peixe-zebra possuem uma capacidade notável de recuperar a função motora após lesionarem a espinal medula. Esta capacidade regenerativa e a facilidade de manipulação genética dos peixes-zebra adultos são o ponto de partida da investigação de Ana Ribeiro, que se propõe estudar os mecanismos que regulam a regeneração da medula espinal.

Perceber como a medula espinal do peixe-zebra adulto é capaz de formar novas células após uma lesão e de como estas células ajudam a restabelecer a estrutura da medula espinal e a recuperar a sua função poderá ajudar a compreender quais são os factores que impedem ou limitam a regeneração nos mamíferos e como poderá este bloqueio ser ultrapassado.

Idealmente, este conhecimento ajudará a descobrir como poderão ser moduladas as células estaminais neurais presentes na medula espinal dos mamíferos, incluindo dos humanos, de modo a produzir novas células de diferentes linhagens e contribuir para o desenvolvimento de terapias mais eficientes para as lesões da medula espinal.

Ana Abecasis, 33 anos
Doutorada em Medical Sciences na Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica
Investigadora no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

Como se transmitem as mutações que estão a tornar algumas estirpes do HIV resistentes aos medicamentos anti-retrovirais?
Esta é uma das questões a que pretende responder Ana Abecasis com o projecto de investigação agora distinguido, que visa usar os resultados obtidos para melhorar a eficácia dos tratamentos para o HIV e, assim, melhorar a qualidade de vida dos doentes seropositivos.

Refira-se que, actualmente, cerca de 8% dos diagnósticos de HIV na Europa correspondem a casos em que a estirpe do vírus sofreu mutações que o tornam resistente aos anti-retrovirais, sendo necessário muitas vezes recorrer a um regime terapêutico de 2ª linha, mais tóxico, mais dispendioso e com um período de eficácia mais curto.

Com base na teoria da evolução, o projecto de Ana Abecasis utilizará métodos de filogenética e epidemiologia molecular para identificar e caracterizar clusters de transmissão de resistências aos anti-retrovirais, uma abordagem que permitirá estimar taxas de transmissão, reversão e persistência nas cadeias de transmissão de cada mutação de resistência aos anti-retrovirais. Os parâmetros obtidos serão depois integrados em modelos matemáticos para calibrar e prever níveis futuros de transmissão de resistências aos anti-retrovirais.

Se for bem-sucedida, a nova informação gerada pelo estudo permitirá estabelecer directrizes que melhorem a relação custo-benefício do tratamento, definir regimes terapêuticos de primeira linha e estabelecer linhas de prevenção para a transmissão de resistências aos anti-retrovirais, melhorando a qualidade e esperança de vida do doente.

Leonor Morgado, 29 anos
Doutorada em Bioquímica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa
Investigadora no REQUIMTE/CQFB, Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

Será que a bactéria Geobacter poderá gerar energia limpa e simultaneamente remover compostos tóxicos do ambiente?

Este é uma das questões a que pretende responder Leonor Morgado num projecto de investigação que pretende aprofundar o papel da bactéria Geobacter sulfurreducens nas áreas da bioremediação e da bioenergia.

Leonor Morgado sabe que as bactérias da espécie Geobacter têm a capacidade de transferir electrões para o seu exterior, uma particularidade que tem sido explorada em duas áreas específicas: na bioremediação, para desenvolver tecnologias sustentáveis para a remoção de compostos poluentes do meio ambiente; e na bioenergia, utilizando células de combustível microbianas nas quais os microorganismos crescem produzindo corrente eléctrica.

Partindo deste conhecimento, a investigadora pretende compreender e optimizar a transferência extracelular de electrões na bactéria Geobacter sulfurreducens, contribuindo para uma implementação mais eficiente destas tecnologias.

Para tal, serão comparadas as eficiências da transferência electrónica extracelular em bactérias contendo diferentes formas de proteínas fundamentais neste mecanismo.

A optimização dos processos de transferência electrónica extracelular poderá conduzir à implementação de estratégias de bioremediação mais eficientes e de produção de uma forma de energia limpa e sustentável. Da mesma forma, se estes processos se revelarem eficientes, Leonor Morgado vai verificar se poderão ser acoplados, gerando-se energia limpa ao mesmo tempo que se removem compostos do ambiente.

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