Um passeio pela região de Rio Maior, Salvaterra de Magos e Évora foi o mote para dar a conhecer a mais recente campanha da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo ‘Agora é que é um descanso’ que pretende levar os Portugueses a conhecer e a experimentar o que a região tem para oferecer na estação mais fria.
Assumindo abertamente a ambição de colocar o Ribatejo na mente dos portugueses e fazer deste o próximo destino turístico em Portugal, José Santos, presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo, referiu a aposta na Lezíria do Tejo – área circunscrita do Ribatejo onde a ERT tem atuação – para que esta seja uma escolha do mercado interno tal como é já o Alentejo, considerado um destino turístico consolidado, mas ainda com potencial de crescimento.
A riqueza patrimonial e cultural, as potencialidades da natureza para atividades aquáticas, passeios pedestres ou de bicicleta e a oferta gastronómica de eleição são oportunidades para colocar a região no mapa turístico, e, diz José Santos, essas potencialidades são por vezes desperdiçadas, “perdendo terreno num mercado muito competitivo”. Apoios certos, alguns eventos e o crescimento do parque hoteleiro, podem vir a dar os frutos que se pretende para o Ribatejo, à semelhança do que aconteceu com o Alentejo, referiu ainda o presidente da ERT durante a apresentação da campanha, que decorreu na Quinta da Lapa.
Surpresa gastronómica atrás de surpresa
Durante o passeio tivemos algumas boas surpresas, ou melhor, aquilo que já se sabia foi superado. Por exemplo, sabe-se que em Portugal é impossível comer mal. Todas as regiões têm uma gastronomia que agrada à maioria dos comuns. A região que agora visitámos não foi exceção. Dentro dos repastos mais tradicionais, o cabrito assado e o mangusto de bacalhau (entre outras iguarias) com que o restaurante Terra Chã nos brindou ficarão na memória, assim como a deslumbrante vista sobre o vale da Serra (foto de entrada).
Numa linha diferente, mas igualmente a honrar os produtos locais, o ÓBalcão, do chef Rodrigo Castelo, justificou em pleno a razão por que é um restaurante medalhado com uma estrela Michelin. Ainda no Ribatejo, no restaurante O Escaropim, em Salvaterra de Magos, a fama das enguias foi justificada, em particular as grelhadas, por ser uma forma de confeção menos usual, mas a tarte de lebre não deixa ninguém indiferente.
Já no Alentejo, a Enoteca da Cartuxa e a Cavalariça foram os dois restaurantes que experimentámos. Apesar das incontornáveis migas com lombinho de porco preto serem apanágio do Alentejo, o destaque vai para o atum braseado, confecionado na perfeição.
Na Cavalariça, onde os petiscos e o conceito de partilha imperam, tudo estava delicioso, desde a tempura de feijão-verde, kale e courgete, dip de limão e coentros, passando pelo cachaço de porco alentejano, maçã e pastinaca fumada e pelas lulas salteadas com batatas novas, molho fumado de tinta de choco e esparregado.
Mas se as iguarias criaram memórias, os vinhos não ficaram atrás. Tanto na Quinta da Lapa, perto de Manique do Intendente; como no Fitapreta do enólogo António Maçanita, localizado no Paço do Morgado de Oliveira a 10km de Évora, o grupo convidado pela ERT do Alentejo e Ribatejo teve oportunidade de provar alguns néctares que surpreenderam e aqueceram a alma nos dias chuvosos e cinzentos que o acompanhou.
Salinas a 30km do mar?
Foi no Ribatejo, na região de Rio Maior que encontrámos uma autêntica gema, ou melhor dizendo sal-gema… As Salinas de Rio Maior é um tesouro à espera de ser encontrado. Únicas no país porque se encontrarem no interior, a 30km do mar, as primeiras referências às salinas surgiram em 1177, mas pensa-se que o aproveitamento do sal-gema já seria feito desde a pré-história.
A geologia calcária da Serra dos Candeeiros, que absorve a água da chuva, favorece a formação de cursos de água submersos e deles atravessa uma jazida de sal-gema – formada há milhões de anos aquando do recuo do mar que outrora ocupou a região – que alimenta o poço que se encontra nas salinas e de onde se extrai água sete vezes mais salgada que a do mar. Aqui um litro de água equivale a 220gr de sal. Entre Maio e Setembro dá-se a produção de sal sendo possível visitar e ver as pirâmides de sal expostas ao sol a secar. Este sal, sem iodo, é considerado um dos mais puros com 97% de cloreto de sódio.
Além das salinas, que ficam a cerca de 3km de Rio Maior, num vale no sopé da Serra dos Candeeiros, existe ainda um conjunto de ruas de pedra e casinhas de madeira onde se pode comer e comprar presentes. A partir do final de novembro é possível visitar e comprar os presépios de sal.
Ainda naquela região, existem outras experiências e passeios que se podem fazer, como por exemplo, ser pastor por uma manhã ou uma viagem de jipe para conhecer diversos aspetos da região. Para quem gosta de arqueologia, é possível, através de marcação, visitar, em grupo, as Grutas de Alcobertas de grande interesse arqueológico, onde foram encontradas ossadas humanas do Paleolítico Superior (cerca de 15000 anos.
Aldeia do Escaroupim onde os avieiros vieram para ficar
Depois de uma noite na Quinta da Lapa, um excelente enoturismo localizado numa casa do século XVIII, com 11 quartos com nomes de castas de uva, decorados com um requinte quase espartano, mas com tudo o que é necessário para descansar com comodidade, partimos em direção à pitoresca, simples, mimosa e tranquila aldeia do Escaroupim, a beira do Tejo. Um passeio onde se respira tranquilidade para os amantes ornitólogos e não só.
A aldeia fica a poucos quilómetros de Salvaterra de Magos e pensa-se que algumas famílias de pescadores de Vieira de Leira que encontraram no Tejo uma forma de sustento porque o rigor do inverno não lhes permitia a pesca na sua terra natal. Foi ali, no Escaroupim que construíram as típicas casas coloridas de madeira sobre palafitas, hoje assentes sobre cimento, e se transformaram nos Avieiros do Tejo. Dali, do cais na margem do Tejo, onde os jacintos teimam em invadir as águas, partem embarcações de empresas como a Rio-a-Dentro, que fazem passeios pelo rio que dão a conhecer não só a história do local, como as ilhas das Garças ou dos Amores, durante o qual se avistam cavalos e uma grande diversidade de aves.
Pedras que contam a história
Se há destino que dispensa apresentações é Évora. Depois de uma noite no The Noble House, antigo solar dos Condes da Lousã, localizado no coração histórico da cidade, a 2 minutos da Sé e do Templo Romano, o destino foi Ebora Megalíthica.
Num passeio rápido pelo montado alentejano, por entre azinheiras e vacas curiosas, mas devidamente cercadas, fomos até à Anta Grande do Zambujeiro, um complexo tumular onde foram encontrados esqueletos e artefactos que faziam parte dos rituais fúnebres de outrora, datada de aproximadamente 3500 antes da era cristã.
Com uma explicação envolvente e cativante pela guia Sira Camacho, dando o devido enquadramento arqueológico sobre várias questões daquele período, nomeadamente quem estaria ali enterrado, a orientação do monumento, ficámos a conhecer algumas noções de como seria a vida naquela época. No fundo lançar uma luz interpretativa sobre o mundo, as ideias e as crenças destes antepassados.
O passeio normal com guia demora 3 horas, mas é importante ter este acompanhamento com guia para se poder perceber o que é que se está a ver.
Dois dias, em que as condições meteorológicas não convidavam ao passeio, ficou aberto o apetite para aprofundar aquilo que nos foi apresentado. Pela nossa parte é o que vamos fazer.