A Fidelidade Arte e a Culturgest têm patente a exposição “Apofenia” que reúne artistas nacionais e internacionais selecionados pelos fundadores do projeto Las Palmas e decorre no âmbito do projeto Reação em Cadeia. Contando com a curadoria de Bruno Marchand, vai estar patente até 26 de fevereiro de 2021 no Espaço Fidelidade Arte, em Lisboa), com entrada gratuita.
A mecânica da apofenia pode ajudar a explicar parte da história desta exposição. Apofenia é o termo científico para a capacidade de reconhecer figuras, padrões ou conexões em dados aleatórios. Dito de outra forma, apofenia acontece sempre que se reconhece a forma de um animal numa nuvem ou o perfil de um rosto no recorte de uma montanha. Nenhuma dessas figuras é fruto de uma intenção prévia e resultam da apetência do cérebro para agrupar dados aleatórios em grupos que fazem sentido, do seu irreprimível impulso de tornar uma abstração em algo reconhecível e concreto, da sua vocação para facilitar a emergência de entidades que nascem à força da interação solidária das suas partes.
As coincidências ou pontos de contacto entre as propostas que têm cabimento no contexto desta exposição, e do universo Las Palmas em geral, não se confundem com qualquer iniciativa panfletária. Não há movimentos nem manifestos ao jeito modernista. Como na apofenia, a reunião destas singularidades é circunstancial – uma fabricação do cérebro, pronta a ser desfeita se algo de mais premente, significativo ou prazeroso se interpuser. Enquanto perdura, contudo, Las Palmas é um campo de liberdade e experimentação em curso. Um risco partilhado entre pares, nacionais e internacionais, com rosa choque em pano de fundo.
Contrariamente ao que tem acontecido no ciclo Reação em Cadeia, Las Palmas não é uma exposição individual, significando um espaço expositivo gerido por artistas, fundado em 2017 por Aires de Gameiro, Hugo Gomes, Nuno Ferreira e Pedro Cabrita Paiva. Como acontece com a maioria dos projetos deste género, Las Palmas não serve exclusivamente para mostrar as obras dos seus fundadores, mas antes para explorar, através de exposições individuais e coletivas, um território – desta feita, um território que se vai construindo à medida que se avança no caminho.
Para a exposição do ciclo Reação em Cadeia os fundadores do projeto Las Palmas selecionaram obras dos seguintes artistas nacionais e internacionais:
- Aires de Gameiro; Lisboa (PT), 1989
- Arno Beck, Bonn (DE), 1985
- Catherine Telford-Keogh, Toronto (CA), 1986
- Eduardo Fonseca e Silva, Lisboa (PT), 1993
- Francisca Valador, Lisboa (PT), 1993
- Holly Hendry, Londres (UK),1990
- Hugo Brazão, Madeira (PT), 1989
- Jason Dodge, Newton (USA), 1969
- José Taborda, Lisboa (PT), 1994
- Lito Kattou, Nicosia (CY), 1990
- Maria Miguel von Hafe, Guimarães (PT), 1995
- Nuno Ferreira, Lisboa (PT), 1991
- Pedro Cabrita Paiva, Beja (PT), 1991
- Primeira Desordem: Hugo Gomes, Lisboa (PT), 1989; João Marques, Lisboa (PT), 1989
- Rowena Harris, Norfolk (UK), 1985
- Stefan Klein, Memmingen (DE), 1998
Com curadoria de Bruno Marchand, “Apofenia” é a sexta exposição do ciclo iniciado em 2019, Reação em Cadeia, que resulta na colaboração entre a Fidelidade e a Culturgest. A proposta consiste em implicar os artistas na seleção dos seus pares, que irão suceder lhes no espaço da Fidelidade Arte, em Lisboa (primeiro) e da Culturgest Porto (em seguida). A Las Palmas seguir-se-á, em março de 2021, uma exposição do artista mexicano Rodrigo Hernández.
Cada ano contará com intervenções de três artistas, que conhecerão diferentes declinações em cada espaço, nomeadamente com a presença de obras diferentes, resultado de profundas adaptações dos projetos à diferente natureza das duas galerias. No final de cada ano, será publicado um livro que compilará a memória dos três projetos do ano, com extensa documentação sobre o seu desenvolvimento.
Próximo artista / março 2021 será Rodrigo Hernández (México, 1983).